terça-feira, 11 de agosto de 2020

O sorriso que teimas guardar

Oh sorriso que atravessa a alma
Porque te guardam tão fechado?
Devias ser livre sem reserva alguma
De seguro e claro a quem é dado. 

Faz a lua e o sol corar 
Do sorriso que carregas com brio
Pois dele nunca deves abdicar 
Seja pleno, incompleto ou vazio.

Oh sorriso, quando te vejo 
quando me sais do pensamento
Não tem sido fácil domar o desejo
Do sorriso que me tira o momento. 

Um sorriso preso perde vida
Com o passar do tempo sem viver
Sai fruto da uma memória antiga 
De um sorriso que um dia soube ser. 

Cai-lhe o brilho e a luz 
Daquele tímido esboçar 
Não é sorriso para carregar na cruz
Se com ele pleno faz encantar. 

É pois o sorriso que sonho
Aquele que vejo vestido nos olhares 
São horas e palavras até ao encontro
Do momento que me vires e dele usares. 


quarta-feira, 18 de março de 2020

Verchões

Colocaste-me um espelho à frente e deixei-me seduzir pelo reflexo.

Nele pude ver refletido o som do mar, o calor do sol e o toque suave da areia nos pés descalços. Pude sentir o toque quente do futuro, da esperança e dos bons tempos. Vi o sabor caloroso da partilha e o sorriso embevecido do amanhã. Era sedutor, arrepiante e completo. Nele pude perceber a comunhão, a rua com sentido único e as mãos dadas até ao infinito. Guardei para mim a brisa do mar, a revolta dos oceanos, o gosto do sal na água que me invadia o rosto. Invadi-me de bons sentimentos, de recordações e de momentos que os cozinhei na perfeição para chegar à fervura daquela calma expectante?

Sim, aquele reflexo arrepiou-me. Convenceu-me do mundo, das serras e dos lagos, das montanhas e das praias, dos desertos aos arranha-céus. Ainda hoje sinto o arrepio,


Mas sim, era um reflexo. E mão que lava mão, quem nem Pilatos, reflexo merece reflecho. Assim mesmo, versão torcida. E foi o que tiveste. Aquela vevchão satisfatória que não preenxe nada. Akele resumo amarelo da Hestória completa. Falço, imcompleto e redutor.



quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Sem rumo

Sento-me sem rumo, com propostas de palavras soltas nos dedos. Quero encadeá-las na melhor harmonia, em conforto com o meu pensamento e com a pessoa que desejo ser nestas linhas. São flashes de uma memória pouco capaz, que teima em sair do labiríntico dilema em que as envolvi.

Escrevo-me sem rumo, ao sabor de um vento que prima pela ausência. São rumores de um reflexo que me acompanha incessantemente, sem direção definida ou sabor preferido. São arremessos de pensamentos sem fio condutor, livres para desiludir, ou pior, iludir, estes dedos que tentam encontrar a sua música.

Leio-me sem rumo, engolindo pelos olhos as linhas que descorro de sorriso tímido. São perfeitas quadras de um vazio penetrante, de um mundo espelhado, antes de perfeitamente estilhaçado, que alberga sem pudor as ideias sem vigor. É um caminho turtuoso, de avanços e recuos, vais e vens, hesitações e tendência para a tecla que o apagaria.

São pois pensamentos sem rumo, fruto deste fogo que me invade para as palavras. Oxalá não o sinta extinguir, mesmo que o percurso seja duvidoso de tantas certezas carrego.

sábado, 18 de janeiro de 2020

Divagações invernais



Sou força da natureza contida
Projeto de crescimento infinito
Luz de candeia fundida
Oásis em deserto perdido.

Tenho as horas em recuo incessante
Rumo a tempos por lá deixados
Sou flor que vira semente possante
Ou espírito de traços passados.

Sou o que tiver de ser
Em cada acordar matinal
As linhas pelo que me vou coser
Monto-as a ritmo infernal.

Tenho os sonhos guardados
Expectantes do som da partida
Para, soltos, guiarem danados
O Homem para a terra prometida.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Fumo, não fogo

Segurei o fósforo com carinho e risquei-o. A chama surgiu instantânea, azul e amarelo, para deleite dos meus olhos. Senti aquela breve sensação de calor que segurava nas mãos, com o entusiasmo dos dias frios. 

À frente esperava uma pira, pronta a ser acesa. Foi montada com cuidado, preparada com atenção e carregada de sorrisos. Só necessitava daquela chama, e de uma outra, para aquecer sem limites o seu redor. 

Vi o fósforo na tua mão mas não ouvi o risco que o acendia. Não vi o gesto entusiasmado que faria nascer a chama naquele pedaço curto de madeira. Viu-o imóvel, inerte e sem risco. 

Gritei de dor quando a chama me atingiu os dedos e deixei cair no chão do esquecimento o fósforo que havia riscado. 

A pira por lá ficou, algures. Era lareira que não ia ser acesa. Ele voltou a ser ele.