Naquela caixa de vidro cresci e tornei-me uma pessoa. Descobri o reflexo, o meu e de quem espreitava pelo vidro. O curioso era eu mas a curiosidade estava em quem passava. E foram diversos os olhares que pude sentir presos em mim, com ou sem brilho, resultado dessa inexplicável sensação de espreitar a novidade.
Deixei-me enlear na minha caixa de vidro, a ponto de ter esquecido que ela existia. Erro! Existia mesmo e formava uma barreira contra quem me rodeava - não minha, não por mim mas por ser essa a sua função, distanciar-me e absorver o mundo em meu redor.
Foi aí que descobri as ligações de fio de cabelo - aquelas tão frágeis que não sobrevivem a um sopro, a um sonho ou um capricho. Seja qual fosse a intensidade dos mesmos, não deixaram de sustentar-se na imprevisibilidade do momento, fazendo quase esquecer que eram não maiores do que um simples fio de cabelo. Por ele passavam palavras, desejos e convicções, informação que sustentou todas as sensações que o mundo mais próximo e imediato me deixou captar. Mas nada escapa à sua verdadeira natureza - um fio de cabelo não se transforma numa cascata por mais que queira.
Foi pois dessa fragilidade que a minha caixa de vidro se alimentou. E de fragilidade e fraqueza me reconheço e sinto, dentro daquela caixa de vidro que me rodeava e via o mundo mais próximo e imediato.