terça-feira, 19 de março de 2019

O Passo I entregue aos lobos


Os passos titubeantes iniciais são travados pelo medo. Do dia que começa a caminhar para a noite, da dança íntima entre sombras e últimos raios de sol projetada no chão em frente. Do local desconhecido, do percurso nunca antes tentado e do destino em estreia. Ingredientes que toldam o imaginário do nosso caminhante, dotado de uma mente fogosa e enriquecida, encharcado nas dúvidas que o assaltam a cada passo que se propõe dar.

Despojado de referências, o sopro no coração indiciava receio. Um nervoso começava a tomar conta dos sentidos no arranque do projeto. Questionou a necessidade, o propósito e o valor dos seus pensamentos. Sabia que sairia, duma forma ou de outra, no extremo oposto da partida, mais valioso e consciente de si mesmo. E essa ideia aquecia uma alma habituada a extremos.

Um sopro de vento arrancou um estremecimento do corpo no mesmo momento que fez cair uma pinha ao chão. Do alto do pinheiro, em queda livre, aterrou ao som de tiro de partida numa prova olímpica. Não se desfez, aguentou estoicamente a força do embate e guardou um espaço no solo.

Guardiã, guia e protetora, a pinha manteve-se imóvel conforme foi apanhada. Da observação, na mão, nasceu a convicção de que a pinha, pura de interesses, seria uma mais-valia única naquela sua jornada. Vestiu-se de sua guia do percurso, dado já o ter visto do alto antes de cair. Voluntarizou-se para ser sua a protetora pois podia tornar-se uma arma eficaz. E, não menos especial, tornou-se sua conselheira, pois provava que por muito forte que o embate seja, só se deixa destruir quem está feito para não cair.

O ânimo causado por uma simples pinha, que de beleza contava pouco, reconfortou o nosso caminhante dos seus propósitos, limpou a água que tantas vezes tinha caído dos olhos e vitaminou um ânimo desesperado por conforto. Nasceu um sorriso modesto mas desafiador nos lábios. A jornada seria dura mas a pinha tinha tempo para ir a seu lado, de mão dada, até onde o destino se encarregasse de ditar.

"Não é valente o que não tem medo, mas sim o que sabe dominá-lo" - Nelson Mandela



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